Quando analisadas por historiadores de arte, as imagens e esculturas são classificadas como parte do movimento artístico do barroco. Mas o que é o barroco? É um estilo artístico que abrange contribuições muito diversas: da literatura até a arquitetura, passando pela música, pela pintura e pela escultura, do qual é possível, hoje, identificar com clareza elementos definidores. As criações barrocas são uma resposta artística à crise de valores na sociedade européia pós-renascentista.
Ao pretendido equilíbrio do mundo representado pela arte renascentista, o barroco respondeu com o exagerado culto da forma e das expressões. O tão citado excesso de requinte barroco buscava manifestar as relações entre o divino e o terreno, o natural e o sobrenatural. O rebuscamento formal era uma maneira de interpretar as lutas e sofrimentos humanos em busca da aproximação com os céus.
O que passou a ser chamado de barroco missioneiro, por sua vez, tem características peculiares em relação ao movimento barroco em geral. O barroco europeu surge enquanto conjunto de manifestações artísticas que interagem com outras tendências européias de arte, especialmente o Renascentismo. Já o barroco missioneiro nasce e se desenvolve tendo no isolamento das populações das reduções e na necessidade de catequização as chaves-mestras de sua diferenciação e originalidade artísticas.
É importante reiterar que a introdução jesuíta de técnicas de produção artística entre os povos indígenas das reduções, bem como os movimentos desses religiosos pela valorização da arte naquele contexto, não atendiam, de início, às buscas pela construção de uma estética original.
A introdução da arte barroca inseria-se na complexa estratégia traçada pelos jesuítas para a catequização das populações reduzidas. Armindo Trevisan, um dos autores que estudaram o uso específico da arte nas missões jesuíticas para fins de cristianização, aponta o uso das imagens missionais como um elemento pedagógico substituto da bíblia na estratégia de catequização. O conjunto de imagens, por seu alcance de persuasão, era naquele contexto o que os jesuítas entendiam como a Bíblia dos Pobres.
Em razão do analfabetismo de grande parcela dos indígenas a serem catequizados, as imagens funcionavam como reforço às pregações cotidianas dos jesuítas. Também eram elementos fundamentais em todo o conjunto de ritos que os padres buscavam fixar no sistema de valores dos novos fiéis. Até hoje, imagens como a da Nossa Senhora da Conceição são alvo da adoração religiosa popular.
Por isso, se a arte sacra barroca européia podia ser aproveitada pela pregação católica para aproximar seus fiéis das questões espirituais por meio de pinturas e imagens, a arte sacra missioneira pode ser vista como um exagero das fórmulas artísticas barrocas para essa pretendida aproximação. Não são raras as imagens de santos com olhos marejados de lágrimas de sangue, ou de santos que parecem dirigir-se muito diretamente aos seus apreciadores 50 51 com expressões muito fortes, em tom de sermão e reprimenda.
Para Armindo Trevisan, o barroco das missões é “um barroco no qual o conteúdo espiritual predomina sobre as preocupações apologéticas. Um barroco lento, profundo, sem retórica…”